Havia lido o (inicialmente bom) roteiro do filme Podecrer há uns três anos atrás mas não sei o que aconteceu a ele, pois não se transformou no filme que vi anteontem. Como todos os seus colegas da Conspira, Arthur Fontes filme muito bem (destaque para a câmera de Gustavo Hadba). Mas o resultado, neste filme, deixa a desejar. Apesar das belas imagens e da estética coerente com aquilo que está sendo representado, o filme vai se esgarçando numa trama desprovida de maiores conflitos. Mesmo se pensarmos que a entrada da vida adulta pode vir com poucos conflitos, na verdade aqui eles são indicados, esboçados, mas parece que o filme não tem suficiente interesse neles para ir a funda nas questões. A mais dramática delas, uma gravidez precoce seguida de aborto, é tratada com a superficilidade de uma novela da tarde. Uma pena, pois vê-se que existe um potencial enorme naquele universo tão bem delineado, estéticamente, por Fontes e Hadba. Mas o resultado é uma série de videoclipes (com excelente escolhes de musica, vale dizer) entremeados por cenas que acabam sendo rasas e às vezes até forçadas. O que acaba desperdiçando também alguns ótimos atores, destaque para o trio formado por Marcelo Adnet, Gregório Duvivier e Silvio Guindane.
domingo, 4 de novembro de 2007
MOSTRA
Depois de muitas dias vendo um, dois ou três filmes por dia perde-se um pouco a paciência e a exigência do espectador que vos fala fica infinitamente maior. O que fez com que, ao fim da mostra, eu já estivesse saindo antes do fim, em alguns casos, algo raro na minha vida de cinéfilo. Devo confessar que nenhum dos filmes que vi me arrebatou completamente. Mas vi muitos filmes notáveis, para dizer o mínimo. Entre eles: Les Temoins, 4 Meses 3 semanas etc... e Cançoes de Amor. Acho que o cinema francês está em ótima forma. Vi mais três títulos franceses, todos muito acima da média.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
TIM FESTIVAL
Mais uma vez o trabalho me impediu de desfrutar do Tim Festival com a intensidade que ele merece. Ainda assim consegui ver pelo menos um dia, e ainda por cima no Rio. Alguns comentários:
* São Pedro não ajudou em nada a noite de sexta, mas nem mesmo mandando ver na chuva conseguiu diminuir a intensidade da experiência.
* Foi meu primeiro TIM na Marina da Glória. Aprovadíssimo. Pensei que nada se equipararia ao MAM mas na Marina foi show de bola. Ponto pro mise-en-scene colorido, misto de Las Vegas com São João.
* O show de Bjork foi correto. Mas para quem se impressionou tanto com a diva, como eu, ao longo dos anos, ficou aquém das expectativas.
* Anthony and the Johnsons tocaram bem, mas no lugar errado... Numa semi-vazia tenda enorme, onde o publico ia chegando para ver Bjork, sua voz teve que competir com a conversa da platéia mais distante.
* Hot Chip, geniais em disco, carecem de uma performance que empolgue.
* Arctic Monkeys foi pra mim a grande surpresa. Não conhecia e fiquei impressionado com aquela molecada que toca bem pra c..., e incendiou a platéia na noite de sexta.
Como sempre, o clima, o astral, era dos melhores. As tribos todas se misturavam, o clima era de paz e mais uma vez o festival nos orgulha, pois em poucos lugares do mundo existe algo parecido. Parabéns à Monique Gardenberg e sua Dueto, pela organização, e à Mario Cohen e à TIM por acreditar que investir em eventos deste tipo é mais do que propaganda.
sábado, 29 de setembro de 2007
El Pasado
Assisti hoje de manhã a uma sessão de El Pasado, novo filme de Hector Babenco, com estréia prevista para início de novembro. Confesso que estava bastante curioso, pois havia lido o roteiro e falado sobre o filme com o Hector pouco antes de ele começar a filmar. O filme é muito forte e fica (está) comigo, suas imagens me vêm a mente, seus temas me induzem à reflexão constante. Além disso o filme é lindo de se ver, Ricardo Della Rosa (e Babenco, claro)fotografa Buenos Aires com uma autenticidade profunda. O filme exala argentinidade, mas sem tratar especificamente de nada argentino. Ainda assim me vi transportado àquela cidade que amo, onde vivi e onde pretendo ainda viver. A cena do parto é emocionante e certamente o parto mais bem filmado que vi no cinema. Enfim, estou divagando aqui, não é um filme que se digira rapidamente. Um filme para ser revisto e pensado.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Mais "Tropa"
Para usar um termo bem americano, "Tropa" virou um event movie. Sem querer me dar mais mérito do que mereço, mas estes dias vi que muito do que escrevo aqui tem ecoado na imprensa... Sinal de que estamos pensando no filme, e, como eu disse, que ele realmente provoca uma discussão. Eu bato o pé: "Tropa" não é um filme fascista, mas ele esfrega em nossa cara o lado mais podre da nossa sociedade (ops, esqueci Brasília!).
Quanto à pirataria, algumas observações:* Acho que o filme tinha potencial para algo entre 3 e 4 milhões de espectadores nas salas de cinema.
* Posso estar errado (é bem possível, e saberemos em dois meses!) mas acho que dificilmente passará dos 2 milhões de espectadores.
* Traduzindo em números, se eu estiver mais ou menos certo isso significa um prejuízo bruto em torno de R$ 12 milhões. Portanto, bem mais que o faturado com os supostos 2 milhões de DVD´s já vendidos.
* Quem perde? Não só Padilha, Prado, Zazen & Cia. Perdem todos os que participaram do filme, perdem os distribuidores, os exibidores, o pipoqueiro, a bilheteira, etc... Viram a gravidade do assunto?
* E o argumento da democratização cultural? Acesso de todos, porque a maioria não pode pagar? Ora ora, balela... Ou o filme não vai ser lançado em DVD daqui a 6 meses? E não se pode ratear o aluguel de um DVD (preço de uma cópia pirata) entre vários? E a Globo, não vai passar o filme um dia? Filme com o Olavo de Paraíso Tropical? Ah vai... portanto, quem quisesse veria "Tropa" de graça... Mas do jeito que foi, o cinema brasileiro (e as milhares de pessoas que vivem dele, como este que vos escreve) perderam... e não foi pouco.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Endossando o que eu dizia no meu post abaixo, leiam a carta que Wagner Moura mandou ao Globo: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/09/24/297856410.asp
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Festival do Rio
Acabaram-se as filmagens de 174... ainda me resta muito trabalho pela frente, entrevistas, edição, acompanhar a pós, etc... mas depois de três (eternas) semanas de noturnas decidi que era hora de voltar ao cinema... à sala de cinema. Coincidentemente, no dia em que terminei, às 10 da manhã, uma diária de 13 horas, o Festival do Rio dava seu pontapé.
Desde então continuo no insuportável fuso da noite (dormindo às 8-9 e acordando 4 da tarde) e hoje nem consegui dormir, acho que bateu um cansaço maluco que faz com que as funções vitais fiquem mais malucas ainda... meu corpo doía de cansaço mas a cabeça não parava, e quando parava havia ali um inoportuno mosquito a zumbir no meu ouvida... enfim. Vamos ao festival.
Abertura, uma confusão daquelas, nunca vi uma abertura tão concorrida, quase fui esmagado na entrada. Mas deu tudo certo e então, para um Odeon abarrotado, apresentou-se o filme mais falada do ano: Tropa de Elite. Muito do que senti ao ver foi moldado por uma visão anterior do filme; não, eu não aderi à onda de pirataria, de onde nem meus amigos mais abastados escapam. Coincidentemente, durante o Bafici em Buenos Aires, meu amigo Eduardo, que pilota os fundos da Weinstein para filmes latinos (cuja primeira cria é "Tropa") recebeu o primeiríssimo corte do filme. Por ser eu tupiniquim e falar português (e ele não), chamou-me para que eu opinasse. Situação sempre difícil, pois um primeiro corte é aquela coisa. Ainda assim lembro-me de sair da sala de projeção do Malba profundamente impactado, faltava-me o ar. Sabia que havia ali algo poderoso. Muita coisa mudou, a começar pelo narrador, que deixou de ser a personagem de André Ramiro e passou a ser o de Wagner Moura. E isso não é pouca coisa... ao mesmo tempo em que tornou a trama mais clara, pode ter levantado a bandeira que um punhado de pessoas vêm chamando de fascista. Eu discordo, acho importante não confundir a voz da personagem (que ao narrar, tornou-se principal) com a do filme. Sobre isso leiam a excelente crítica de Eduardo Valente no http://www.revistacinética.com.br/. Isto posto, algumas observações:
- Poucas vezes vi um filme que mexesse tanto com a platéia. As reações à saída do Odeon, e depois, na festa, eram as mais diversas possíveis. Mas eram sempre reações fortes. Uma conhecida produtora revoltou-se, teve gente que saiu do film no meio, outros chamavam Tropa de o melhor filme do ano... algo que estranhei foi o comentário de que o filme glorificava demais aquelas personagens, ou que seria uma ode à tortura. Não sei se teve a ver com as duas versões, já que na anterior, quando não era Nascimento (Wagner Moura) que narrava eu o achei absolutamente detestável. Mas o fato é que eu continuei a achar aqueles homens sem coração, sem muito discernimento e extrapoladores do respeito cívico (as torturas são barra pesada). Mas vi isso justamente sob a ótica inversa: aquela representação fazia com que uma pessoa de bom senso (to me achando isso, aqui) desaprovasse do comportamento daqueles homens, não o sentisse glorificado. Mas parece que estou em minoria.
- Tecnicamente o filme é impecável. O som é dos melhores que já vi no cinema nacional, a trilha, perfeita, e Lula Carvalho firma-se aqui como um talento que nada deve so de seu pai. O elenco em sua quase totalidade, impressiona, e Wagner Moura consagra-se, junto com a novela, como o ator que certamente marcará uma época no audiovisual brasileiro.
- Finalmente, a pirataria... bem, isso renderia um outro post e muito já foi dito. Embora Globo Filmes nenhuma tivesse gerado esta mídia toda, desconfio que no fim das contas os piratas roubaram sim uma parcela do público total. Mas isso só saberemos depois que o filme entrar em cartaz. Agora, é impressionante a quantidade de pessoas que já viram. Saímos depois em grupo, pela noite carioca, e entre nós estava Caio Junqueira, que também brilha em papel de destaque. As pessoas a torto e a direito o saudavem pelo seu nome de Bope: 06. Caio me disse que nunca em sua carreira de mais de 15 anos, onde fez muita televisão (Globo) foi tão reconhecido pelo público. Surpreendente.
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Na sexta fui à estréia de Nome Próprio, de Murilo Salles. Fiquei fã de Murilo quando ele abraçou Árido Movie, filme que produziu com poucos recursos e que fotografou com muita beleza e inteligência. Seu mais novo longa tem momentos muito impactantes, uma interpretação impecável e ousada de Leandra Leal, bons atores (revelados no filme), e uma fotografia digital rica e original. Mas o filme não sustenta suas 2 horas e 10 de duração. O roteiro, que parece tentar demais ser anticonvencional, não dá estofo a tanto tempo. Nem os textos de Averbuck (projetados ad nauseum) e nem mesmo a bela fotografia. Estou certo de que se Salles tirasse 40 minutos de seu filme, teria algo mais poderoso em mãos e com potencial de atingir seu público alvo. Do jeito que está, vai ser mais um filme brasileiro a ficar duas semanas em cartaz.
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No sábado sessão dupla: Nas Asas da Panair, documentário de Marco Altberg, é tocante e belo ao resgatar a história da cia. aérea que provocou paixão sem precedentes, e que foi injustamente aniquilada pela ditadura, numa violência contra as 5000 famílias que lá trabalhavam. Talvez tenha gostado tanto por razões pessoais: meu tio-avô, Paulo Sampaio, a quem minha mãe adorava (era gêmeo idêntico do avô que nunca conheci) foi presidente da empresa por muito tempo, fez dela sua vida e quase morreu junto quando os milicos barbarizaram. O filme é dedicado a ele. Vale conferir nem que seja a canção que Milton Nascimento fez para a Panair, e que Elis gravou.
Corri para o palácio para ver (para mim) o filme mais aguardado de todos: a estréia em longas de ficção do meu amigo querido Chico Teixeira: A Casa de Alice. Nervoso por ele, pela estréia, por tudo, entreguei-me completamente à impressionante obra de Chico, impressionante pela complexidade que se esconde sob a aparente simplicidade. Acho que é dos filmes mais sutís que vi em toda a minha vida. O não dito fala tudo, e o que se diz nunca sobra. Marcos Pedroso na arte e Mauro Pinheiro na foto estão em sintonia absoluta com um elenco totalmente desconhecida mas poucas vezes tão afiados. São atores ali, mas parecem existir MESMO. O filme acaba e você quer mais, e fica em seguida imaginando onde estará aquela gente agora. O que será daqueles meninos, daquela velha adorável e da nossa heroína da vida cotidiana. Palmas e mais palmas para Chico e toda a sua equipe, e para o elenco sensacional encabeçado por uma Carla Ribas em estado de graça....
E chega, preciso dormir!
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