domingo, 2 de agosto de 2009

Exercício n. 2: Formas Breves

Durante a minha breve passagem pelo Rio de Janeiro fui duas vezes assistir ao (ótimo) espetáculo, ou "quase não-peça" Exercício n. 2: Formas Breves, de Bia Lessa. Os meus três ou quatro leitores devem saber que ando com uma certa preguiça de teatro em geral, e desde a última vez em que estive num palco como ator (há dois anos, em Os Crimes de Preto Amaral) tampouco tive muita vontade de voltar a fazer teatro. Pois tudo isso foi revisto ao me deparar com esta pequena jóia, que une fragmentos de livros de diversos autores (Dostoiévski, Tchecov, Thomas Bernhard, Kafka, Sérgio Sant’anna, André Sant’anna, Anaïs Nin, Pedro Almodóvar, Walt Whitman, Antonin Artaud, Elias Canetti, Bertold Brecht, Ian MacEwan, Marguerite Duras, Honoré de Balzac).
A experiência deve sua força a duas razões:
1- O espetáculo: unindo os tais fragmentos a uma encenação inspirada e original, Bia Lessa (aqui com a habilidosa costura dramatúrgica de sua filha, a física Maria Borba) consegue momentos de alto impacto emocional. Apesar de não ter uma "história", a emoção se faz presente em vários momentos ao misturar imagem, som e palavras de uma maneira que deveria servir de inspiração ao teatro que comumente se vê por aí. Alguns dos fragmentos são projetados, destacando ainda mais a força e a qualidade dos textos escolhidos. A iluminação, a música e a mise-en-scene em determinados momentos atinge uma beleza realmente sublime, que por si só já me causaria comoção. Aliadas à cuidadosa escolha dos textos e a um elenco jovem e dedicado, transcende.
2- O lugar: Reconheço minha enorme ignorância, mas desconhecia a existência de um teatro em pleno Jardim Botânico. Pois bem, trata-se de um verdadeiro acontecimento. Na sexta-feira em que fui pela primeira vez confesso que fiz um certo esforço, pois chovia torrencialmente na cidade e eu estava com uma significativa ressaca. O táxi que me levava se enganou e me deixou a cem metros do portão que dá acesso ao teatro. Mas a caminhada (de uns trezentos metros) entre a rua Jardim Botâncio e o teatro foi memorável. A chuva a pouco havia cessado, e uma verdadeira orquestra sinfônica de sons de mata atlântica me fez companhia por entre árvores centenárias, perfumadas de um cheiro que, mesmo para quem não mora em São Paulo, comove. À beira do caminho casarões da melhor estirpe de arquitetura colonial (e também do fim do século 19) brotavam silenciosos e imponentes. O teatro, por fora, tem a fachada (ou a parte da frente) de época, belíssimo. Dentro, trata-se de um moderno e elegante teatro desprovido de palco italiano, onde de cara vemos o proscênio coberto de roupas pretas, que junto a pequenas cordas de aço darão encantamento ao espetáculo. Não conheço tantos teatros mundo afora, mas arrisco o palpite de que o teatro Tom Jobim, no Jardim Botâncio, deve facilmente ser um dos espaços teatrais mais encantadores do planeta. Conhecê-lo valeria a viagem. Ver, também, o espetáculo Exercício n. 2: Formas Breves, faz o programa ser imperdível. Em cartaz até o final de agosto. Corram!
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Torço pelo sucesso de À Deriva na bilheteria. Por várias razões, mas principalmente porque validaria o investimento (inédito) de "dinheiro bom" de um estúdio americano em um filme brasileiro (no caso a Focus Features, braço "indie" da gigante Universal, através da competente produtora O2). Mas creio nunca antes ter visto tamanho racha na crítica de mídia impressa e "internética" (web? eletrônica? cibernética? quem acompanha!). Enquanto os três principais jornais escreveram críticas favoráveis (bom, segundo a Folha e Estado, boneco sentado aplaudindo, segundo O Globo), as três críticas dos sites Cinequanon e Revista Cinética (os de maior prestígio, em se tratando da internet) foram fortemente negativas. Taí algo a se pensar.
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Foi um grande hiato em silêncio aqui neste blog. Imagino que ele esteja terminando. Prometo para esta semana os resultados da esperada enquete MELHORES DO CINEMA NACIONAL 2008. Os votos ainda estão chegando e, adianto, estão disputadíssimos, na categoria de melhor filme, entre Linha de Passe e Meu Nome Não é Johnny.