quarta-feira, 17 de março de 2010

MELHORES DO CINEMA NACIONAL 2008/2009

OBS- Dado o atraso desta publicação (afinal, a premiação é para filmes lançados em circuito no ano de 2008), informo que a enquete não foi realizada no ano de 2009, mas para supri-la faço uma listagem de alguns dos destaques do ano ao final do texto.

 

Com grande atraso venho postar o resultado do meu “prêmio” do cinema nacional. O atraso deve-se, em grande parte, ao prolongado empate em algumas categorias-chave, cujo desempate tentei garimpar com novos eleitores ou votos atrasados. Como isso não ocorreu, postarei-os mesmo assim, mas este ano um pouco desiludido com a coisa toda. Explico.

Sinto que há na nossa classe (a do cinema) uma espécie de cisão (por falta de termo melhor), onde realmente pensamentos e idéias não convivem muito bem umas com as outras. Embora exista ainda uma pluralidade no tipo de filme que se faz no Brasil hoje, tanto temática quanto esteticamente, existe pouca apreciação de um grupo por outro, o de uns grupos por outros. É como se pólos absolutamente opostos de pensamentos não dialogassem e nem fizessem o menor esforço para tal. Tentarei exemplificar.

Este ano houve empate na categoria de melhor filme. Não foi a única, mas achei que não era saudável que o empate ocorresse também na principal categoria. Os filmes em questão são Meu Nome Não é Johnny  e   Linha de Passe. Embora em algum ponto seja possível encontrar uma base temática parecida (pois um fala de exclusão e o  outro aborda um aspecto daquela que vêm a ser a face mais violenta dela– o tráfico de drogas, mesmo que sob a ótica de um menino “bem nascido”), são filmes que diferem bastante em outros aspectos. À margem do gosto de cada um, ambos os filmes possuem inegáveis virtudes. Mas encontram-se, em alguns aspectos, em dois pólos opostos no que diz respeito a uma visão de cinema nacional (e isso não é uma opinião da qual compartilho).

Um dos críticos que convidei para participar desta enquete educadamente declinou minha solicitação, alegando que não acreditava na validade destes prêmios. Tentei convencê-lo de que iniciativas do tipo eram importantes, já que de um jeito ou de outro estimulam a discussão e valorizam nosso trabalho, que culturalmente (no que tange à sua capacidade de dialogar com uma maioria da população) tem perdido valor ano a ano. Ele argumentou, inteligentemente, que prêmios deste tipo acabam por privilegiar um cinema de mercado, pois mesmo tendo entre os indicados filmes mais “marginais” (por falta de definição melhor), as pessoas que votam raramente viram tais filmes, e acabam vencendo os filmes que foram mais vistos. Existe alguma verdade aí, inegavelmente. Se pensarmos nos dois vencedores deste ano, um deles foi também a maior bilheteria de 2008 e o outro é dirigido por nosso mais notório cineasta, ou seja, por mais que não se trate de um filme comercial (na definição mais vulgar da palavra), a “classe” assistiu majoritariamente, por tratar-se de um filme de Walter Salles. Ano passado o vencedor foi Tropa de Elite, filme que conseguiu também ser de fato um sucesso popular, graças à pirataria (fenômeno que não ocorreu com Johnny, que não foi um “hit pirata” e ainda não saiu dos restritos mercados das salas de cinema, DVD’s e TV fechada).

Mas ainda assim acho que existe no seleto grupo que elegi para votar uma certa parcela mais preparada e aberta a todo tipo de filmes. Em 2006 foi o Céu de Suely quem abocanhou a maior quantidade de prêmios (embora seja verdade que aquele ano careceu de um blockbuster  de qualidade).

Enfim, perdi-me um pouco no relato mas vejo claramente que temos, de um lado, uma parcela de produtores, de “gente de cinema” que vê como primordial que se pense em cinema como sendo uma “coisa de mercado”. Do outro lado um grupo que rechaça completamente este tipo de pensamento, valorizando principalmente os chamados “filmes de arte” ou filmes de autor (Bressane sendo o papa de muitas destas pessoas).

Como este blog é um espaço onde gosto de emitir as minhas opiniões, penso que de ambos os lados parece haver um radicalismo que acaba não sendo coerente com uma cinematografia como a nossa, que mal ou bem é das mais heterogêneas que existe. Posso reconhecer os logros de um filme como Johnny  assim como também os de um filme como Linha de Passe ou Céu de Suely. Claro, posso preferir um filme a outro também (e como organizador este forum não seria ético revelá-las aqui) mas o fato de um filme fazer sucesso não necessariamente o descredita (e vice versa). Veja bem, não acho que existe esse nível de preconceito, mas acho sim que há algum preconceito, em menor nível, tanto de um lado como do outro.

E tudo acaba resvalando numa questão maior, que é o fator subjetivo. As pessoas em geral são muito “donas da verdade”, e a na nossa classe esta tendência parece estar acentuada. Quando vemos um filme sempre trazemos junto, enquanto críticos (que todos somos, já que na saída de qualquer filme pergunta-se para o amigo, a namorada, o colega,  “e aí, gostou”?) a nossa bagagem. Quem somos, o que nos interessa, a educação que tivemos, o nosso humor naquele dia, enfim, tudo acaba moldando a opinião que teremos ao nos deparar com uma obra de arte. Ok, poderíamos dizer que nem todos os filmes são (ou até aspiram ser) uma obra de arte.  Por outro lado nem tudo é subjetivo, evidentemente. Mas se ficarmos apenas no âmbito artístico, é impressionante o quanto o cinema parece ser um meio que permite maior subejtividade do que a musica, or exemplo, ou as artes plásticas. Qualquer pessoa com uma musicalidade e educação mínima aprecia Beethoven, por exemplo. Pode preferir Stravinsky, ou Schubert, ou os Beatles, mas sentirá estar diante de uma grande obra ao ouvir a nona sinfonia. Pessoas do mundo inteiro se despencam até o Prado, em Madrid, para ver o Guernica de Picasso. Mas quantas pessoas esclarecidas, por exemplo, detestam Antonioni, ou muitos dos filmes de Fellini, ou Cidadão Kane, Chaplin, enfim. Em se tratando de cinema, realmente não existem unanimidades. Nem mesmo quando falamos de filmes ruins.

Como estou terminando meu primeiro longa, esta questão toda está latente em mim. Durante o processo de montagem convoquei algumas pessoas, de diferentes backgrounds, para assistir o filme (em diferentes cortes) e conseguir assim sentir como aquele história tocava as pessoas. Passei quase um ano montando, apenas eu e Fernando Coster, o montador, e num determinado momento achei que fosse importante (e foi) ir sentindo como o filme reverberava em outros. E assim descobri (o óbvio, mas neste momento estamos carentes e cegos à obviedades assim) que as pessoas gostavam (ou não) em maior ou menor grau. E num determinado momento comecei a não ouvir a maior parte delas, pois na maioria das vezes tratava-se simplesmente de uma opinião, completamente subjetiva. Quase todas estas pessoas puderam somar alguma coisa útil ao processo, mas muitas vezes o que eu ouvia em nada poderia somar àquilo que eu estou realizando.

E fui assim ficando mais consciente desta questão, que é a diferença (enorme) de opiniões que parecem povoar ainda mais o cinema nacional do que outras cinematografias (no que diz respeito à opinião da nossa classe) ou de qualquer assunto mesmo. No festival do Rio isso novamente apareceu como algo marcante em minha experiência de ver e ler sobre os filmes da Premiere Brasil. Luiz Carlos Merten, por exemplo, deixou claro o quanto achava que  Natimorto  havia sido injustiçado, ao não receber nenhum prêmio do júri (filme este que ele considerava, disparado, o melhor da competição). Mas o fato é que aquelas poucas pessoas que compunham o júri resolveram por não dar a Natimorto prêmio algum. E Merten, no caso, não é o único fã de Natimorto. A inversa pode ser observada no caso de Os Famosos e os Duendes da Morte, que levou o prémio de melhor filme do júri, mas também tinha lá seus detratores.

Perdoem-me se já perdi um pouco o foco. Não sei porque adentrei nesta questão da subjetividade. Acho que estou um pouco frustrado com os empates e com a sensação de que o trabalho para organizar esta enquete acaba não sendo válido, pois existem opiniões tão divergentes e pontos de vista tão opostos que iniciativas como a minha, mais que unir-nos, acaba por separar-nos.

E intuo que estas visões tão conflitantes tem um pouco a ver com a dificuldade de se fazer cinema no Brasil e a competição pelos recursos, nunca suficientes para fazer tantos filmes, de tantos diretores. Acredito que de um lado as pessoas mais “do mercado” ressentem-se de perder editais para o pessoal mais “cabeça”, e de outro o pessoal “cabeça” irrita-se com o fato de que o dinheiro de artigo terceiro vá, quase que exclusivamente, para os tais “filmes de mercado” (aliás parabéns à Warner pela notável exceção de, justamente, Os Famosos...). Parece que no fim não há espaço para todo mundo (ou há?).

Mas aí entraríamos numa outra discussão mais longa e profunda, e estamos aqui para fazer uma festa aos nossos filmes e ao nosso cinema. Então chega de blá blá blá e vamos aos resultados!

 

MELHOR FILME: Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas e Meu Nome Não é Johnny, de Mauro Lima, seguidos por Chega de Saudade, Estômago e Última Parada 174.

Walter Salles fez um filme, segundo ele, “sem concessões” (em sua sempre bem sucedida parceria com Daniela Thomas). Entre os eleitores desta enquete, muitos são fãs declarados do filme, enquanto alguns consideram-no um filme frio, desprovido de emoção, ou “mais do mesmo”. Johnny talvez não desperte opiniões tão fortes, mas trata-se de um filme de qualidades inegáveis, que conseguiu cair no gosto popular, e assim pelo segundo ano consecutivo o prêmio de melhor filme vai para um grande sucesso de bilheteria. Vejo isto como um bom sinal , à margem de qualquer opinião minha pessoal com relação aos filmes em questão. Fazer filmes de qualidade que também agradem ao publico é algo positivo, já que em geral blockbusters (sobretudo se pensarmos na Hollywood recente) muitas vezes são filmes formatados pelos gerentes de marketing dos estúdios americanos.

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO: Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, seguido por O Mistério do Samba, Juízo, Pan-Cinema Permanente e Pindorama.

Não posso comentar detalhadamente esta categoria já que não vi alguns dos indicados. Posso apenas dizer, baseado no que vi, que continuamos a fazer documentários da mais alta qualidade, superando muitas vezes (se pensarmos em cinema do mundo todo) a qualidade dos nossos filmes de ficção. Serras da Desordem é uma obra-prima, um filme notável que infelizmente foi pouco visto.

 

MELHOR DIRETOR: Mauro Lima, Meu Nome Não é Johnny (para lista completa dos indicados, ver post antigo)

Embora este não seja o primeiro longa de Mauro Lima (trata-se do quinto, mas apenas o segundo a chegar nas salas de cinema) para o público em geral e até para a maior parte da classe, é como se fosse. O talento do relativamente jovem diretor é evidente, e em grande parte por causa dele um filme que poderia ter sido “de encomenda” acabou por transformar-se num certo fenômeno de 2008. Talvez por isto Mauro Lima tenha levado este prêmio, em disputa muito acirrada com a dupla Walter Salles e Daniela Thomas.

 

MELHOR ATOR: João Miguel, por Estômago

É bem provável que se eu tivesse começado a organizar a enquête um ano antes João Miguel tivesse levado o prêmio pela sua notável atuação em Cinema, Aspirinas e Urubus. Finalmente este ano, após se consolidar como um dos grandes novos talentos do cinema brasileiro ele leva o prêmio por uma composição inteligente e divertida como o cozinheiro em Estômago, desbancando o sempre brilhante Selton Mello (que ficou com o segundo posto pelo carismático trabalho em Meu Nome Não É Johnny). Vale notar a inclusão de um trabalho pouco visto, mas que rendeu o prêmio APCA ao jovem e talentoso Gustavo Machado, cada vez mais presente nas nossas telas e nos nossos palcos.

 

MELHOR ATRIZ: Leandra Leal, por Nome Próprio

Foi uma disputa acirrada que acabou por reconhecer o extraordinário trabalho da (muito jovem) Leandra Leal, que chega a idade adulta com uma impressionante bagagem de importantes trabalhos realizados no cinema, na televisão e no teatro. Sandra Corveloni, vencedora no festival de Cannes, e Darlene Gloria em volta triunfal estiveram perto, mas o prêmio vai para Leandra, que assim acaba com a hegemonia de Fátima Toledo, que estava por trás de três dos quatro vencedores no prêmio de melhor ator/atriz dos últimos anos.

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE: Stepan Nercessian, por Chega de Saudade

Um dos muitos méritos do filme de Lais Bodansky é justamente dar uma oportunidade a uma série de bons atores “da antiga”. Stepan Nercessian é um ator que começou sua carreira fazendo muito cinema, e há muito tempo ficou em segundo plano na Globo, uma pena. O novato Kaique Brito, de Linha de Passe, foi muito lembrado também (aliás todos os irmãos no filme fazem um belo trabalho, dando àquela família uma credibilidade impressionante).

 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Andréia Beltrão, por Romance

Beltrão, atriz que raras vezes aparecia nas nossas telas, leva novamente o galardãose consagra bi-campeã (ano passado levou por Jogo de Cena) e já desponta como forte candidata à enquete deste ano (se houver), pelos tranalhos em Verônica e Salve Geral. Uma atriz que sempre dá grande humanidade às suas personagens, teve como acompanhantes na categoria a bela Djin Sganzerla (vencedora no festival de Brasília) e a sempre excelente Cássia Kiss (por Chega de Saudade).

 

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Cláudia Da Natividade, Fabrízio Donvito, Lusa Silvestre E Marcos Jorge, por Estômago.

Também bem lembrados nesta categoria Linha de Passe, Chega de Saudade e curiosamente o documentário Juízo.

 

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Mauro Lima e Mariza Leão por Meu Nome Não é Johnny.

Um belo trabalho de adaptação, deixou para trás o interessante Nome Próprio, filme oriúndo de textos e blogs.

 

MELHOR FOTOGRAFIA: Mauro Pinheiro por Linha de Passe.

Terminando com a hegemonia de Walter Carvalho (indicado este ano novamente duas vezes, por Cleopatra e Chega de Saudade), Mauro Pinheiro firma-se como um dos grandes diretores de fotografia da atualidade.  Interessante notar que se Walter pouco a pouco mais dirige que fotografa, deixa um sucessor à altura: Lula Carvalho ganha sua segunda indicação por um belo trabalho no filme Feliz Natal.

 

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Renata Pinheiro por Feliz Natal.

Indicada anteriormente por Baixio das Bestas, Renata Pinheiro também é um nome a se acompanhar, por seu trabalho elegante e sutíl. Destaque para a excelente resconstituição de época (e época recente, o que parece fácil, mas não é) de Claudio Amaral Peixoto em Meu Nome Não é Johnny. Marcos Pedroso, vencedor no passado, também brilhou por seu trabalho em Chega de Saudade.

 

MELHOR MONTAGEM: Gustavo Giani e Lívia Serpa por Linha de Passe.

Ambos jovens e competentíssimos (Serpa quase levou ano passado por Santiago e Giani destacou-se em filmes como Baño del Papa), talvez marquem tendência por serem os únicos nesta categoria a terem trabalhado em dupla. O mesmo aconteceu nos Oscars deste ano (onde um casal levou por Hurt Locker), e Avatar contava também com três montadores. Vale destacar mais uma vez o excelente trabalho de Paulo Sacramento, que consegue ser também um prolífico produtor, de Cristina Amaral (pela obra-prima Serras da Desordem) e o sempre inventivo Cao Guimarães.

 

FIGURINO: Andrea Simonetti por Chega de Saudade.

Categoria das mais disputadas, Simonetti leva por pouco, seguida por Fábio Namatame (Onde Andará Dulce Veiga) e Cao Albuquerque (Romance).

 

TRILHA SONORA: Fabio Mondego, Fael Mondego, Marco Tommaso e Mauro Lima, por Meu Nome Não é Johnny.

Inegável o mérito do diretor Mauro Lima e seus comparsas em criar uma trilha que serve à trama como poucas e é grande responsável pelo ritmo ágil do filme. Conseguiu desbancar o sempre bom (e duplamente vencedor do Oscar) Gustavo Santaolalla, em mais uma notável parceria com Walter Salles, o o brasileiro radicado nos EUA Marcelo Zarvos, que fez um excelente trabalho em Última Parada 174.

 

MELHOR SOM: som direto George Saldanha, ES François Wolf, Mix Armando Torres Jr., por Meu Nome Não é Johnny 

Assim como a trilha, o som de Johnny é um dos grandes destaques do filme. Bem gravado, bem concebido e bem acabado, faz com que o filme brasileiro em nada deva aos bons filmes americanos em matéria de som. Destaque também para Chega de Saudade, que alia com primor seus (muitos) números musicais num filme cheio de bons diálogos.

 

Prêmios por Filmes:

Meu Nome Não é Johnny, 6

Linha de Passe, 3

Estômago e Chega de Saudade, 2

Feliz Natal, Serras da Desordem, Nome Próprio e Romance, 1

 

DESTAQUES DE 2009

Como os caros leitores puderam perceber, não houve ao final enquete em 2009. Mas foi um ano de bons filmes. Vale ressaltar os mais marcantes.

Andréa Beltrão- Como previsto, brilhou em dois filmes: Verônica e Salve Geral.

Denise Weinberg- Excelente atriz, a muito tempo conhecida, vinha ganhando espaço no cinema até ganhar destque por uma brilhante atuação em Salve Geral. Vale lembrar que Sergio Rezende já escala Weinberg há algum tempo. Rezende, bom diretor de atores, merece ser lembrado por filmes permeados de grandes interpretações: vide Wilker em O Homem da Capa Preta, Paulo Betti em Mauá e mais recentemente Patrícia Pillar em Zuzu Angel.

Matheus Natchtergaele- Uma dos mais impressionantes debuts na direção cinematográfica da retomada nacional, Matheus fez A Festa da Menina Morta, um filme belo e sem concessões.

Daniel de Oliveira- Se já havia sido brilhante em Cazuza, Daniel de Oliveira consegue se superar dando vida ao complexo Santinho em A Festa da Menina Morta.

Lula Carvalho e Renata Pinheiro- Também por criar uma atmosfera onírica e belíssima em A Festa da Menina Morta.

José Eduardo Belmonte- Com seu melhor filme, Se Nada Mais der Certo, Belmonte conquistou muitos prêmios por seu excelente trabalho na direção de um bom roteiro seu, bem montado por ele. O filme também tem ótimas interpretações.

Titãs, a Vida é uma Festa e Simonal, Ningém Sabe o Duro que eu Dei- Dois fantásticos documentários musicais. De um lado o divertido, irreverente e frenético (como a banda) Titãs, sensível e amoroso filme de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves, fornecendo também um belo painel do geração 80. De outro o honesto e afiado Simonal, que nos fornece também um painel da década de 60 e 70.

Gregório Duvivier- Alma do simpático Apenas o Fim, revela-se um novo talento como ator e como roteirista. Embora não assine o roteiro do filme, fica claríssima a sua contribuição como improvisador, com diálogos divertidos e inteligentes.

Selton Mello- Mais uma vez, nosso grande ator de cinema mostrou sua versatilidade em três diferentes e ótimas interpretações nos filmes Erva do Rato, A Mulher Invisível e Jean Charles.

Jean Charles- Um filme sensível, bem dirigido e inteligente, merecia ter feito mais sucesso nas bilheterias.

É Proibido Fumar- Grande vencedor do Festival de Brasília, trata-se de um filme completo: roteiro e direção afiados, Glória Pires em estado de graça e mais uma vez uma decepção não merecida nas bilheterias.

 

domingo, 2 de agosto de 2009

Exercício n. 2: Formas Breves

Durante a minha breve passagem pelo Rio de Janeiro fui duas vezes assistir ao (ótimo) espetáculo, ou "quase não-peça" Exercício n. 2: Formas Breves, de Bia Lessa. Os meus três ou quatro leitores devem saber que ando com uma certa preguiça de teatro em geral, e desde a última vez em que estive num palco como ator (há dois anos, em Os Crimes de Preto Amaral) tampouco tive muita vontade de voltar a fazer teatro. Pois tudo isso foi revisto ao me deparar com esta pequena jóia, que une fragmentos de livros de diversos autores (Dostoiévski, Tchecov, Thomas Bernhard, Kafka, Sérgio Sant’anna, André Sant’anna, Anaïs Nin, Pedro Almodóvar, Walt Whitman, Antonin Artaud, Elias Canetti, Bertold Brecht, Ian MacEwan, Marguerite Duras, Honoré de Balzac).
A experiência deve sua força a duas razões:
1- O espetáculo: unindo os tais fragmentos a uma encenação inspirada e original, Bia Lessa (aqui com a habilidosa costura dramatúrgica de sua filha, a física Maria Borba) consegue momentos de alto impacto emocional. Apesar de não ter uma "história", a emoção se faz presente em vários momentos ao misturar imagem, som e palavras de uma maneira que deveria servir de inspiração ao teatro que comumente se vê por aí. Alguns dos fragmentos são projetados, destacando ainda mais a força e a qualidade dos textos escolhidos. A iluminação, a música e a mise-en-scene em determinados momentos atinge uma beleza realmente sublime, que por si só já me causaria comoção. Aliadas à cuidadosa escolha dos textos e a um elenco jovem e dedicado, transcende.
2- O lugar: Reconheço minha enorme ignorância, mas desconhecia a existência de um teatro em pleno Jardim Botânico. Pois bem, trata-se de um verdadeiro acontecimento. Na sexta-feira em que fui pela primeira vez confesso que fiz um certo esforço, pois chovia torrencialmente na cidade e eu estava com uma significativa ressaca. O táxi que me levava se enganou e me deixou a cem metros do portão que dá acesso ao teatro. Mas a caminhada (de uns trezentos metros) entre a rua Jardim Botâncio e o teatro foi memorável. A chuva a pouco havia cessado, e uma verdadeira orquestra sinfônica de sons de mata atlântica me fez companhia por entre árvores centenárias, perfumadas de um cheiro que, mesmo para quem não mora em São Paulo, comove. À beira do caminho casarões da melhor estirpe de arquitetura colonial (e também do fim do século 19) brotavam silenciosos e imponentes. O teatro, por fora, tem a fachada (ou a parte da frente) de época, belíssimo. Dentro, trata-se de um moderno e elegante teatro desprovido de palco italiano, onde de cara vemos o proscênio coberto de roupas pretas, que junto a pequenas cordas de aço darão encantamento ao espetáculo. Não conheço tantos teatros mundo afora, mas arrisco o palpite de que o teatro Tom Jobim, no Jardim Botâncio, deve facilmente ser um dos espaços teatrais mais encantadores do planeta. Conhecê-lo valeria a viagem. Ver, também, o espetáculo Exercício n. 2: Formas Breves, faz o programa ser imperdível. Em cartaz até o final de agosto. Corram!
*
Torço pelo sucesso de À Deriva na bilheteria. Por várias razões, mas principalmente porque validaria o investimento (inédito) de "dinheiro bom" de um estúdio americano em um filme brasileiro (no caso a Focus Features, braço "indie" da gigante Universal, através da competente produtora O2). Mas creio nunca antes ter visto tamanho racha na crítica de mídia impressa e "internética" (web? eletrônica? cibernética? quem acompanha!). Enquanto os três principais jornais escreveram críticas favoráveis (bom, segundo a Folha e Estado, boneco sentado aplaudindo, segundo O Globo), as três críticas dos sites Cinequanon e Revista Cinética (os de maior prestígio, em se tratando da internet) foram fortemente negativas. Taí algo a se pensar.
*
Foi um grande hiato em silêncio aqui neste blog. Imagino que ele esteja terminando. Prometo para esta semana os resultados da esperada enquete MELHORES DO CINEMA NACIONAL 2008. Os votos ainda estão chegando e, adianto, estão disputadíssimos, na categoria de melhor filme, entre Linha de Passe e Meu Nome Não é Johnny.

sexta-feira, 20 de março de 2009

As enchentes em São Paulo nunca deixam de existir...
Domingo realizo um sonho de longa data: verei Radiohead ao vivo.
Durante o show chegarei aos trinta.
Me assusta e excita.
Muitas incertezas me esperam.
Encontro-me cansado e feliz com um corte razoável de meu primeiro longa.
Moro no apartamento dos meus sonhos, não sei por quanto tempo ainda...
Mas quem sabe na vida o tempo que duram as coisas?


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Editando

Estou em pleno (mais pro fim, na verdade) processo de edição do longa. Em crise com o título, que por hora segue sendo POR EL CAMINO, prático mas óbvio. Tem sido um processo muito instigante, muitas vezes divertido e essencial para mim na conclusão deste filme que é praticamente um "one man show" (sem desmerecer todos os colaboradores, a maioria excelentes...). Mas de fato quem carregou mesmo esse filme nas costas (e no bolso) fui eu e apenas eu e sinto-me absolutamente no direito de chamar este filme de "um filme de" (curiosamente não costumo fazer isso nos créditos, embora tenha escrito, dirigido e produzido todos os meus filmes até hoje).
Venho feliz de 8 horas junto ao meu co-montador (sim, somos dois mas me referirei a ele simplesmente como montador) o sensível Fernando Coster e, tendo revisado já 60% do "juntão" (uma primeira junção, na ordem, de todas as cenas do filme já montadas) reduzimos o tempo total de 2h 36 min para 2h 12 minutos... O melhor é que temos feito isso sem maiores sofrimentos (para mim). Diretores são sempre apegados, mas neste caso, como trata-se de um filme recheado de elementos pessoais, pensei que não conseguiria me desvencilhar tão facilmente de certas cenas, certas imagens... Mas é impressionante como o filme vai nos falando, vai nos guiando neste duro processo de jogar tanta coisa fora... Algum dia falarei sobre edição da vida, um tema muito interessante a se discutir; estou editando a minha.
Em todo caso, mandarei posts eventuais informando aos meus 3 leitores de como anda o processo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

FILOSOFIA BARATA

Faz tempo que não escrevo, e ainda assim surpreendo-me ao saber que algumas (poucas) pessoas lêem este blog. E agora, em meu primeiro dia de férias de facto resolvi encher um pouco de espaço do exíguo blog. Sabe como é, fim de ano, muitos pensamentos vêm à mente, fazemos quele balanço básico e nestas horas o mundo claramente se divide em otimistas e pessimistas, com poucas matizes. E hoje, enquanto caminhava por uma praia infinita, saído do povoado que já ameaçava ostentar seus veraneantes, rumo ao deserto que se descortinava, vi que este ano claramente me junto aos pessimistas. Aliás, sou um pessimista histórico. Chamado de garoto enxaqueca (personagem que não conheço, a não ser por pequenas amostras me feitas pelo Fábio Lucindo, que faz a voz do tal garoto). E aí pensei um monte de coisa, algumas das quais até escreverei aqui, apesar de serem basicamente lugares comuns absurdos... mas verdades nonetheless. Dentro desse pessimismo (exacerbado por um ano difícil, cheio de problemas familiares, traições e até morte) cheguei à conclusão que vivemos num mundo que emburrece. Um mundo que perde seus valores. Um mundo onde as pessoas estão cada vez mais fracas e egoístas. E eu que acreditava que vivíamos uma crise de valores estou absolutamente certo de que a crise econômica decorre destas crise maior de valores. Nunca se falou tanto em consumo, em mercado, em lucro... À minha volta casa vez mais ouço as pessoas falarem em coisas... Parece que o aburguesamento intelectual do mundo chegou a toas as classes: a aristocracia perdeu sua suposta inteligência e perspicácia e as pessoas mais pobres perderam um pouco aquela naivité romântica... Vivemos a democratização das novas mídias: estamos todos conectados rumo ao consumo desenfreiado. Eu sei que isso tudo é um clichezão da porra. Foda-se. Sinto o mundo à minha volta assim. E quando, consciente ou inconsientemente me recuso a participar deste grande mercado, me vejo sugado para dentro dele. Me vejo pronto para me vender. Vendo minha arte, meu talento, qualquer um deles. Quero consumir. Quero participar. Quero? Não sei. Temos opção? Aprendo a viver de leis de incentivo, tento viver razoavelmente de fazer pequenos filmes, vistos por públicos ainda menores e finjo que nada disso existe? Que o mundo não está ficando pior? Ou está? Não sei... sinto que não sei mais nada. Sinto que muitas coisas fogem ao meu controle mas reparo que à minha volta a burrice emana. Parece que quanto mais informação entra na cabeças das pessoas, menos espaço sobra para pensar. E pra terminar, num rompante de otimismo, quem sabe enfim esta crise não serve mesmo para reordenar os valores equivocados dos tempos modernos?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

POLÍTICA E O MUNDO EM CRISE

Acho que não convém ao artista falar de política, mas em geral somos seres altamente politizados. Eu particularmente sempre fui, e lembro-me bem do meu entusiasmo quando a democracia finalmente se abriu para as eleições presidenciais em 1990. Depois houve uma desilusão coletiva, como consequência justamente da eleição de 90. Fui me despolitizando, mas acho que estamos vivendo novamente um momento único na política nacional e mundial e por isso quero comentar e fazer campanha abertamente. Estamos a semanas do segundo turno nas duas principais cidades do brasil e também das eleições norte-americanas. E as pesquisas apontam três nomes importantes na primeira posição. Em dois casos, nomes cuja vitória significará um marco histórico. Vamos a elas. A menos importante, neste cenário, é a eleição de São Paulo. O meu candidato, Gilberto Kassab, não me entusiasma muito. Confesso que voto mais como opção a Marta Suplicy do que qualquer outra coisa. Mas há um fator importante que me gera certa curiosidade e até entusiasmo em Kassab: ele é o homem de José Serra. E Serra é, para mim, o político mais capaz do continente hoje. Porque: Serra é de fato um homem que trabalha (muito),  é capaz, inteligente, um burocrata no melhor sentido da palavra, um político no sentido mais sofisticado e dono de uma biografia exemplar. Suas posturas perante os grandes acontecimento nacionais sempre foram as mais corretas, sob a ótica utilitarista. Vejo em Serra um comprometimento em melhorar a vida dos cidadãos maior do que uma ambição política, e isto é fato quase inédito no cenário politíco brasileiro. E Serra apoiou Kassab, mesmo que veladamente, já no primeiro turno, indo contra as diretrizes do partido (coisa que eu acho louvável... o partido nem sempre está certo, certo?). E algo que jamais ocorreria no PT, que mesmo face à maior crise de corrupção no país não deixou de apoiar seus Delubios e cia. Portanto, se José Serra escolhe Kassab, que ficou sob sua batuta no comando da prefeitura, eu confio em Serra e elejo Kassab. Não quero nem entrar no mérito de "relaxa-e-goza" Marta, mas acredito que só o tempo que gastaria durante a prefeitura com a escova, o laquê, provas de figurino e aplicação de botox já nao faria bem à cidade. 
No Rio de Janeiro temos Gabeira, que dispensa qualquer apresentação. Eu temo que, caso eleito, ele seja engolido pela sórdida máquina política por ser um cara tão honesto, tão do bem, quase pueril no meio da corja política média carioca. Mas não importa. É importante para o país que eleja um homem como Gabeira. Por suas virtudes, essenciais num político, e sempre tão ausente neles. Também para que a sociedade vence certas preconceitos e seja mais cuca-fresca. Gabeira é o anti-crivella, o anti-Macedo, o anti-Joao Alves, o anti tudo o que há de ruim nos governantes deste pais. Num estado que historicamente foi o pior eleitor do pais, afundado por Brizola, Moreira Franco e, pior, Garotinho e Garotinha (dá pra levar a serio uma gente que elege esse casal?) Gabeira vai ser um bálsamo. Viva.
Finalmente temos Obama. Que vêm de encontro às ideias que expressei com Gabeira. Depois de 8 anos de Bush, indiretamente responsável pela lama que assola o mundo hoje, Obama surge como uma alternativa ideológica importante, essencial eu diria. É claro que estamos em épocas pragadas pelas incertezas, mas dar uma chance a Obama é o dever de cidadania de uma nação que já faz tanto bem ao mundo, mas ultimamente tem feito mal. Muito mal. 
*
Fazendo uma ponte com a política mas voltando às artes, comento brevemente sobre o espetáculo A Cabra, ou Quem E Sylvia, em cartaz no teatro Vivo (que aliás, não fica tão longe assim quanto parece- a distância é mais psicológica do que física). O texto de Albee é hilario e pertinente. Jô Soares faz o melhor trabalho de sua carreira como diretor teatral. O cenário de Isay Weinfeld deslumbrante, e mais importante, adequado. Mas o teatro é a casa do ator e neste espetáculo vemos quatro atores brilhantes em seus melhores momentos. José Wilker alia sua habitual inteligência cênica a uma verdade impressionante, sustentada durante toda a duração do espetáculo, no qual não sai de cena jamais. Denise Del Vecchio, mal aproveitada na TV, é de uma precisão milimétrica em sua composição. Fancarlos Reis e Gustavo Machado estão hilarios. Mas o espetáculo usa o humor de uma forma quase subversiva, para ser no fundo, uma peça política importante contra a intolerância. Vale uma ida à Berrini. 

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Alô Rápido

*Descobri que entre meus 4 leitores, um deles é o querido Beto Brant. Fiz a pouco um workshop rápido com ele e no último dia ele me contou que lera o blog inteiro! Perdão, Beto, se te exponho como leitor mas você me expôs como blogueiro para a aula toda! As nossas conversas foram ótimas e pude conhecer melhor o método de criação artística deste jovem mestre, cujos filmes tocam a alma.
*Fui ver CIDADANIA, espetáculo de Mark Ravenhill que eu cogitei montar na Cultura Inglesa a dois anos. Curiosamente, o diretor, Tuna Sezerdello, escalou para a montagem o mesmo protagonista que eu iria escalar: Fábio Lucindo. Como vocês deveriam saber, Lucindo é quase meu alter-ego, e provavelmente protagonizará meu próximo longa (se conseguirmos captar antes que ele cresca demais!). O trabalho dele já vale a peça. A Vejinha disse que é "surpreendente e desenvolto". Isso porque ela não viu meus curtas! Viva este pequeno imenso ator!
* Depois fui ver "Era Uma Vez". Fui querendo muito gostar. Acho "2 Filhos..." uma jóia, belo filme mesmo. Infelizmente a segunda tentativa de Breno Silveira na direção mostrou-se, a meu ver, extremamente equivocada. Um roteiro que não se decide entre o fabular e o realista (e acaba não sendo uma coisa nem outra) abusa dos clichês, resultando numa inverosimilhança alienatória. Thiago Martins, ator de visível força, se esforça para defender a personagem principal mas fracassa, o que fica mais evidente numa estranha narração tipo "making-of" do próprio ao final do filme. Uma pena mesmo, porque o tema (morroXasfalto+descoberta do amor) dá pano pra muita manga. Mas nem as belas imagens do Rio conseguem levar o espectador "médio" a se envolver com uma mal-ajambrada trama cujo final chega a ser risível. O diretor merece, porém, uma nova oportunidade de nos mostrar todo o seu talento num novo filme. Vale lembrar que Silveira, agora diretor, foi um dos grandes fotógrafos do cinema na retomada. E como tudo que a Conspira faz, este filme é dotado de um acabamento técnico notável.