segunda-feira, 13 de outubro de 2008

POLÍTICA E O MUNDO EM CRISE

Acho que não convém ao artista falar de política, mas em geral somos seres altamente politizados. Eu particularmente sempre fui, e lembro-me bem do meu entusiasmo quando a democracia finalmente se abriu para as eleições presidenciais em 1990. Depois houve uma desilusão coletiva, como consequência justamente da eleição de 90. Fui me despolitizando, mas acho que estamos vivendo novamente um momento único na política nacional e mundial e por isso quero comentar e fazer campanha abertamente. Estamos a semanas do segundo turno nas duas principais cidades do brasil e também das eleições norte-americanas. E as pesquisas apontam três nomes importantes na primeira posição. Em dois casos, nomes cuja vitória significará um marco histórico. Vamos a elas. A menos importante, neste cenário, é a eleição de São Paulo. O meu candidato, Gilberto Kassab, não me entusiasma muito. Confesso que voto mais como opção a Marta Suplicy do que qualquer outra coisa. Mas há um fator importante que me gera certa curiosidade e até entusiasmo em Kassab: ele é o homem de José Serra. E Serra é, para mim, o político mais capaz do continente hoje. Porque: Serra é de fato um homem que trabalha (muito),  é capaz, inteligente, um burocrata no melhor sentido da palavra, um político no sentido mais sofisticado e dono de uma biografia exemplar. Suas posturas perante os grandes acontecimento nacionais sempre foram as mais corretas, sob a ótica utilitarista. Vejo em Serra um comprometimento em melhorar a vida dos cidadãos maior do que uma ambição política, e isto é fato quase inédito no cenário politíco brasileiro. E Serra apoiou Kassab, mesmo que veladamente, já no primeiro turno, indo contra as diretrizes do partido (coisa que eu acho louvável... o partido nem sempre está certo, certo?). E algo que jamais ocorreria no PT, que mesmo face à maior crise de corrupção no país não deixou de apoiar seus Delubios e cia. Portanto, se José Serra escolhe Kassab, que ficou sob sua batuta no comando da prefeitura, eu confio em Serra e elejo Kassab. Não quero nem entrar no mérito de "relaxa-e-goza" Marta, mas acredito que só o tempo que gastaria durante a prefeitura com a escova, o laquê, provas de figurino e aplicação de botox já nao faria bem à cidade. 
No Rio de Janeiro temos Gabeira, que dispensa qualquer apresentação. Eu temo que, caso eleito, ele seja engolido pela sórdida máquina política por ser um cara tão honesto, tão do bem, quase pueril no meio da corja política média carioca. Mas não importa. É importante para o país que eleja um homem como Gabeira. Por suas virtudes, essenciais num político, e sempre tão ausente neles. Também para que a sociedade vence certas preconceitos e seja mais cuca-fresca. Gabeira é o anti-crivella, o anti-Macedo, o anti-Joao Alves, o anti tudo o que há de ruim nos governantes deste pais. Num estado que historicamente foi o pior eleitor do pais, afundado por Brizola, Moreira Franco e, pior, Garotinho e Garotinha (dá pra levar a serio uma gente que elege esse casal?) Gabeira vai ser um bálsamo. Viva.
Finalmente temos Obama. Que vêm de encontro às ideias que expressei com Gabeira. Depois de 8 anos de Bush, indiretamente responsável pela lama que assola o mundo hoje, Obama surge como uma alternativa ideológica importante, essencial eu diria. É claro que estamos em épocas pragadas pelas incertezas, mas dar uma chance a Obama é o dever de cidadania de uma nação que já faz tanto bem ao mundo, mas ultimamente tem feito mal. Muito mal. 
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Fazendo uma ponte com a política mas voltando às artes, comento brevemente sobre o espetáculo A Cabra, ou Quem E Sylvia, em cartaz no teatro Vivo (que aliás, não fica tão longe assim quanto parece- a distância é mais psicológica do que física). O texto de Albee é hilario e pertinente. Jô Soares faz o melhor trabalho de sua carreira como diretor teatral. O cenário de Isay Weinfeld deslumbrante, e mais importante, adequado. Mas o teatro é a casa do ator e neste espetáculo vemos quatro atores brilhantes em seus melhores momentos. José Wilker alia sua habitual inteligência cênica a uma verdade impressionante, sustentada durante toda a duração do espetáculo, no qual não sai de cena jamais. Denise Del Vecchio, mal aproveitada na TV, é de uma precisão milimétrica em sua composição. Fancarlos Reis e Gustavo Machado estão hilarios. Mas o espetáculo usa o humor de uma forma quase subversiva, para ser no fundo, uma peça política importante contra a intolerância. Vale uma ida à Berrini. 

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