domingo, 5 de agosto de 2007

www.naovoegol.com.br, Não voe ponto.

Já que estamos na época do tema aéreo... Gostaria de tecer mais comentários. Bem, a causa do acidente estreitou-se para o piloto e a máquina. O governo saiu um pouco de cena e infelizmente suas trapalhadas (e o caos aéreo) não abalaram, segundo Datafolha hoje, a popularidade do nosso "presidente do povo". Aquele que há três dias declarou que "não sabia" (do caos aéreo). O que é mentira (há registro de Lula falando sobre o "caos aéreo iminente" em 2002) e mesmo que fosse verdade só iria mais uma vez reafirmar o que já sabemos: temos um presidente que não sabe de nada que se passa à sua volta. Mas sabe TUDO dos governos anteriores.
Mas estou digressando(?) do assunto. Nos últimos meses viajei por todo lado, de todos os meios, e nas principais cias. aéreas brasileiras. Sofri bastante com o caos aéreo e tive problemas sérios com a Gol e a TAM. O que me fez lembrar de minha infância em aviões e aeroportos. Minha vida sempre foi desenraizada. São Paulo é um acaso para onde fui aos dois anos, e de onde estou quase sempre saindo para voltar outra vez. Por isso desde muito pequeno vou à Buenos Aires (onde mora a maior parte da minha família), ao Uruguai (lar doce lar de verão) e Rio, onde nasci, tenho família e eventualmente trabalho. Com os anos acrescentaram-se as viajens intercontinentais, constantes quando vivia nos EUA. Mas na infância o que me salta à memória é o quanto era agradável pegar um avião. Pra mim era um dia todo especial, ainda hoje é. Por mais que eu viaje mais e mais, que os trabalhos e lazer dividam-se entre cidades e países, uma estranha melancolia se apodera de mim quando vou viajar- mesmo que seja uma ponte aérea. Acho que carrego comigo a sensação de que deixo algo, que alguma coisa se termina- eu diria que é mais um daqueles momentos onde sutilmente se manifesta a passagem do tempo. E simultaneamente vêm um frisson do novo, do desconhecido, do que nos espera naquele outro lugar qualquer. Quando criança, tudo isso era realçado pela inocência, pelos tempos diferentes da infância, pelos tamanhos (tudo é maior e demora mais quando se é pequeno).
Me vestia sempre com a melhor roupa para pegar um avião, era como se fosse uma ocasião de gala. Preparava com cuidado meus "pertences pessoais". Depois sofria com meus pais, sempre atrsados e chegar ao aeroporto era um rally urbano cheio de tensão e ansiedade. Mas depois tudo era gostoso: a livraria do aeroporto, entrar no avião, voar e ver tudo pequininho lá embaixo... Me irritava às vezes porque sempre demorava pra chegar. Um vôo de 2:30h até o Uruguai tornava-se um fastídio depois que o almoço era servido. Hoje os vôos me parecem adeqados... e nos permitem um tempo de leitura, contemplação e pensar. Uma pausa do ritmo acelerado da vida.
Os assentos não eram maiores só porque eu era menor. É sabido que as empresas vêm acrescentando fileiras e mais fileiras à classe econômica (que é onde eu viajo) e em algumas delas é um malabarismo achar posição confortável no assento (idaí que eu sou bem alto?). E a comida? Hoje, quando existe é quase sempre intragável. Mas eu lembro do prazer de comer aquele sanduíche de presunto e queijo, com queijo em cima, que eram servidos na ponte aérea da era Electra. E de sobremesa um delicioso bolinho de coco. Para o Uruguai, tinha bife com aquele arroz amarelo, e toda vez eu me perguntava como podia ser amarelo o arroz. E o electra? Que maravilha de avião! Eu estava sempre torcendo para embarcar num dos aparelhos que tinham uma salinha atrás. Mas minha mãe gostava da primeira fila (que, invariavelmente, tem mais espaço pras pernas-- hoje em dia eles bloqueiam, para deficientes e crianças, mas chegando na hora e pedindo-- ou entrando por último no avião, sempre sobra).
A Varig sempre foi motivo de orgulho. Sofri mesmo com sua decadência econômica, mas a Varig nunca perdeu a pose. Em meio ao caos é a única empresa que ainda sabe tratar o passageiro. A Gol, ok, democratizou a aviação. Mas precisa contratar um megalote de funcionários subnormais, subnutridos e subpreparados, que nunca sabem responder a pergunta alguma ou responsabilizar-se pelos problemas dos passageiros? Eu achei que fosse uma exclusividade da Gol, mas descobri outro dia ser da TAM também.
Fui remarcar uma passagem para Buenos Aires. Telefono para o call center. A pessoa que me atende, evidentemente não sabia se era possível remarcar, que taxa existia, etc. Me deixou uma hora esperando, enquanto falava com o supervisor (e vc. fica ouvindo aquela gravãção insuportável!). Voltou e disse que sim, eu poderia remarcar pagando uma taxa e que esta teria que ser paga no mínimo 5 horas antes do embarque. Não pode deixar 2 horas, a pessoa pagando no aeroporto? Não, não pode. Lá vou eu, rush hour, para uma loja da TAM. Chego lá e a moça diz que não, que minha passagem não permite alterações. Antes, ela não achava meu bilhete. Eu havia levado apenas o localizador e ela não encontrava (a do call center deve ter dado errado). Eu falei, ok, deixa eu pegar no meu email. "Não temos internet aqui", ela mentiu -- e eu vendo o explorer bem na fuça. Eu insisti, ela pediu pra chefa que disse que não. Eu pedi pra chefa, Iumi, e ela disse que "eles não permitiam"... enfim, coisa de corporação. Minha paciência no limite, achou meu bilhete, disse que não podia. Eu reclamei, que no call center podia, tinham feito a reserva, etc... aí ela disse que precisava de autorização de um superior do call center... Foram ouvir a gravação da minha conversa! Pra encurtar, o trâmite demorou duas horas, porque nesse esquema corporativo ninguém pode assumir um erro, tudo precisa de sinidcância e foda-se o passageiro. Para cúmulo, no dia seguinte, ao embarcar, saímos de uma sala sem finger, ou seja, tivemos que subir no ônibus para nos levar ao avião. Como de praxe, esperei que todo mundo subisse no ônibus, fiz uma horinha e então subi. E lá ficamos, eu e mais uns 30 passageiros, por (juro) quinze minutos com a porta aberta num frio de 10 graus da manhã de SP. A mioria de pé, crianças e idosos inclusive. Eu me irritei (tava por aqui com a TAM) e fui falar com o funcionário da empresa. O babaca fez arzinho de superior e mandou entrar de volta no ônibus. Mandei ele praquele lugar.
Viajar de avião virou isso... uma humilhação, uma perda de tempo, enfim, um saco... Que pena!

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